Entrevista com: Eric Novello

Recentemente desenvolvi um projeto de leitura em parceria com o grupo Companhia das Letras — o projeto Em Companhia dos Nacionais, cujo objetivo foi realizar leituras de livros nacionais publicados pela editora. O primeiro livro lido foi o Ninguém nasce herói do autor Eric Novello.


Ninguém nasce herói é um romance jovem adulto ambientado num futuro em que o Brasil é liderado por um fundamentalista religioso que dissemina o ódio e a perseguição a minorias. Tive a oportunidade de fazer algumas perguntas para o autor que você pode conferir a seguir.

1. Vivemos um momento delicado na história do nosso país quando pensamos na nossa situação política atual. Muitos preferem, até mesmo, não manifestar publicamente suas opiniões. Você, enquanto autor conhecido nacionalmente, considera importante que pessoas públicas se posicionem politicamente? 

Quando acompanhamos a carreira de uma pessoa pública, de alguém que trabalha com arte de modo geral, tendemos a criar expectativas em relação a ela que nem sempre condizem com a realidade. Ainda mais em um momento em que todos nós criamos personagens para o mundo virtual através de curadoria de conteúdo e controle das nossas próprias narrativas, o que é potencializado no caso de pessoas públicas.  
Falando especificamente de quem trabalha com arte, já que muitas pessoas se tornam "públicas" tomando banho em banheira de Nutella ou falando asneira no Twitter, não acho correto colocar qualquer tipo de obrigatoriedade pesando sobre essas pessoas. Cada um deve fazer o que se sente confortável para fazer e avaliar sua própria situação e consciência.
Já ouvi uma pessoa LGBT+ falando que se sentia mal de não se manifestar mais quando via casos de agressões por homofobia. Entendo o que ela quer dizer, mas não acho correto que uma pessoa LGBT+ se sinta culpada por estar sendo agredida e sentindo medo. A culpa é sempre do agressor. Sempre. 
Embora eu me manifeste politicamente nas redes sociais, tenho tomado cuidado também para não cair nessa armadilha da “pauta do dia”, onde todo mundo se sente na obrigação de falar do assunto do momento. A armadilha da opinião lacradora, como temos chamado. Que no fundo tem menos a ver com opinião e mais a ver com manutenção de um personagem que gera likes. 
As escolhas que faço nos meus livros têm uma carga política considerável, e eu poderia muito bem expressar minha opinião somente através deles e estaria bem com isso. A turnê atual do Depeche Mode é extremamente política sem que eles precisem parar para fazer discursos em nenhum momento do show.
Por outro lado, o “fã” tem todo o direito de se decepcionar com um artista pelo motivo que for, inclusive por ele fazer barulho em cima de filme da Marvel, mas não falar sobre violência contra mulheres, negros e LGBT+, por exemplo. E a partir disso, decidir o que fazer com essa decepção. É o caso de se pensar também se esse silêncio não é já a manifestação de um posicionamento político conservador que talvez vá no sentido contrário àquele idealizado pelo fã. 


2. Você, em algum momento, teve receio de escrever e publicar a história do “Ninguém nasce herói”? Encontrou alguma dificuldade para conseguir publicar devido ao tema? 

Eu só tenho a agradecer à Editora Seguinte nesse aspecto. Eles abraçaram o Ninguém nasce herói e em nenhum momento fizeram qualquer tipo de comentário em relação à trama e aos personagens que soasse como censura. Pelo contrário, todos na editora fizeram eu me sentir mais à vontade em explorar os temas que exploro e continuar a trabalhar personagens que representem a diversidade do mundo real, e não esse mundo ficcional onde todos são brancos, héteros e cis que aparece em muitos livros.  
Enquanto eu escrevia, até pelo momento político bizarro que vivíamos e seguimos vivendo, eu me perguntava o tempo inteiro “você tem certeza do que está fazendo?” E cada vez que eu sentia medo só por estar escrevendo um livro que possui personagens LGBT+, eu entendia o quanto seria importante para mim escrevê-lo e publicá-lo. Nenhuma minoria política, sejam pessoas racializadas, mulheres ou LGBT+, deveria sentir medo de ser quem é, se expressar com honestidade e ser feliz.


3. Já está trabalhando no seu próximo livro? Pode nos contar um pouco sobre ele? 

Falando em censura! Não sei se posso falar dele ainda. Haha. Mas sim! Estou. Novamente um Young Adult, dessa vez voltado para a fantasia. Quando ele receber um OK da editora, voltamos a falar mais sobre o assunto. Combinado?


4. Você trabalha como tradutor há algum tempo. Dos seus livros já publicados qual você mais gostaria que fosse publicado em outro país e por que? 

O Ninguém nasce herói, sem dúvida. Porque ele trata de um tema que é atual e universal ao falar da importância de reforçar laços de afeto, amor, amizade, quando o mundo começa a transpirar ódio ao nosso redor. Meus “heróis” descobrem que existem muitas maneiras de fazer a diferença, e que cada pequeno gesto ou atitude é muito importante no dia a dia, e eu gostaria de ver como ele se sairia em outros países também.

JOGO RÁPIDO: 

Que difícil!

3 AUTORES:
Atualmente tenho gostado muito de:
  1. Maggie Stiefvater (saga dos Garotos Corvos), 
  2. Mariana Enriquez (Coisas que perdemos no fogo) 
  3. Kohske (do mangá Gangsta).

3 FILMES:
  1. Os Sonhadores, do Bertolucci. 
  2. Taxi Driver, do Scorsese. 
  3. Veludo Azul, do David Lynch.
Se eu puder roubar e colocar mais um :3 tem A Harmonia Werckmeister, do Béla Tarr, lindo demais.

3 BANDAS: 
Sendo só bandas, vamos lá: 
  1. Depeche Mode
  2. Massive Attack
  3. Garbage. 

Agradeço imensamente ao Eric por ter respondido as perguntas que formulei, também agradeço a Diana por ter intermediado essa conversa. E espero que vocês tenham gostado de conhecer um pouco mais das opiniões, criações e gostos do autor.

No vídeo abaixo vocês podem assistir as minhas impressões sobre essa leitura ↓

Vídeo sobre Ninguém nasce herói



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Até o próximo post!
Amanda Azevedo

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