Intermezzo, de Sally Rooney

A escrita de Sally Rooney me encantou desde o primeiro livro dela que li. "Intermezzo", seu quarto romance publicado, reafirma a maestria dessa autora irlandesa em explorar as relações humanas com profundidade. Com apenas 33 anos, Rooney já estabeleceu um estilo que – para mim – é inconfundível, e este livro, embora tenha me causado desconfiança inicial por conta do título e da capa, conquistou o segundo lugar no meu ranking pessoal das obras dela, ficando atrás apenas de "Pessoas Normais".

O título, “Intermezzo”, que inicialmente não me atraiu, revelou-se absolutamente pertinente à trama. O termo, que pode significar um breve intervalo entre atos de uma ópera ou um movimento inesperado no xadrez, é uma metáfora perfeita para a história.

A trama é centrada nos irmãos Peter e Ivan, que se reencontram no funeral do pai. Com personalidades e trajetórias distintas, a relação entre os dois, antes marcada pela proximidade e admiração na infância, agora se deteriora em atritos e silêncios. Rooney aborda de forma brilhante as dificuldades de comunicação que podem permear as nossas relações mais íntimas. Essa dificuldade de exteriorizar o que se sente e o que se pensa, que já foi um desafio pessoal para mim, fez com que eu me conectasse profundamente com os personagens e suas lutas.

A narrativa explora não apenas o relacionamento dos irmãos, mas também seus relacionamentos amorosos. Ivan, um prodígio do xadrez que enfrenta uma fase difícil após o luto e a doença do pai, conhece Margaret, uma mulher mais velha, durante uma competição. Peter, advogado bem-sucedido, vive uma dinâmica complexa com duas mulheres: Sylvia, sua ex-namorada com quem mantém uma relação de 'amizade-colorida-mal-resolvida', e Naomi, uma mulher bem mais jovem que ele.

Um ponto que me impressionou foi como a autora explora o impacto das relações mais íntimas em nossa vida. Mesmo separados, os irmãos continuam presentes um na vida do outro – em memórias, mágoas, arrependimentos. Essa ideia de como as pessoas que amamos moldam quem somos e como vivemos é muito bem representada nessa história.

"Intermezzo" é, acima de tudo, um retrato honesto da complexidade humana. Rooney nos lembra que, em nossas vidas aparentemente comuns, existem muitas camadas de emoção e profundidade. A autora consegue demonstrar como é um processo constante entender e aceitar a nós mesmos e também ao outro. Ainda que esse "outro" tenha o nosso amor. E isso não se resume a relacionamentos amorosos, mas sim todos os laços que criamos ao longo da vida: família, amigos, etc.